sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Grande entrevista a Vítor Pereira

 Na primeira entrevista após o final da temporada, o treinador dos seniores masculinos de hóquei em patins da Sanjoanense, Vítor Pereira, faz um balanço do ano 2012/2013, marcado pela presença na final-four da Taça de Portugal, e antevê aquilo que poderá ser 2013/2014, não deixando de falar sobre outros assuntos que vão para além do ringue, como a recente tomada de posição de redução de clubes, por parte da federação, ou um olhar global sobre a secção de hóquei em patins alvi-negra.
Vítor Pereira treinador da AD Sanjoanense

Mundo Desportivo-ADS.: Passados cerca de dois meses do final da temporada, qual é o balanço que faz da época dos seniores masculinos 2012/2013?
Vítor Pereira: O balanço foi positivo porque em relação ao ano anterior, estivemos melhor, elevámos mais os índices competitivos, obtivemos uma melhor classificação no campeonato, fomos à Final-Four da Taça de Portugal, portanto foi um ano positivo. Contudo, ficou aquela marca de não termos conseguido aquilo que queríamos que era a subida de divisão, apesar de nos termos superado e de termos superado algumas dificuldades da secção, ficou aquela mágoa de não termos subido de divisão.
Penso que o nosso melhor jogo foi contra o Limianos, gostei muito desse jogo e o pior jogo foi em Marco de Canaveses.
M.D.: A temporada ficou, sem dúvida, marcada pela presença na Final-Four da Taça de Portugal. Olhando para trás agora de forma muito mais ponderada, o que é que realça dessa participação? Acredita que não vão ser precisos esperar mais 30 anos para que a Sanjoanense volte a estar numa fase da competição tão avançada?
V.P.: Foi bom até por uma questão de imagem para o clube, propaganda para a cidade e mostrar que em São João da Madeira estamos a trabalhar bem, que o hóquei está diferente e a presença foi bastante dignificante.
Acredito que não vão ser precisos mais 30 anos, em São João da Madeira temos jovens valores, que têm bons índices competitivos, temos uma equipa à base de prata da casa e que tenho a certeza que pode dar continuidade a este ciclo positivo que existe.

M.D.: O que é que faltou para conseguir a subida de divisão?
V.P.: Faltou um pouco de sorte em alguns jogos, em momentos-chave, faltou estarmos mais habituados estar numa disputa de subida de divisão, foi o primeiro ano em que nos assumimos e houveram coisas que não correram bem, a pressão que existiu, factores à volta da modalidade sobre as subidas e descidas que são difíceis de gerir e, em determinados momentos, deveríamos ter sido mais unidos para não estar tão à mercê dessas situações, que pelos visto já são normais.
M.D.: Certamente que, como treinador, não possa falar muito sobre as arbitragens, mas a verdade é que vários foram os jogos em que a sua equipa sentiu-se prejudicada e injustiçada, casos como Sobreira, Paços de Ferreira, Viana do Castelo, entre outros. Não sendo a única desculpa que justifique a não subida de divisão, acaba a arbitragem por condicionar a temporada da Sanjoanense? Crê que a APAveiro poderia ter um papel mais activo na defesa dos interesses da Sanjoanense como defende outros clubes, sendo prova disso a falta de apoio dado no caso do jogador dos Carvalhos que realizou três transferência no mesmo ano?
V.P.: Quando nós não subimos de divisão por três pontos e temos cerca de sete pontos perdidos por erros de arbitragem, que nos prejudicaram e tiveram influência no resultado, é óbvio que isso dava-nos outro espaço para subir de divisão, de facto existiram arbitragens que nos prejudicaram em determinados momentos e condicionaram a subida de divisão, assim como outras equipas ganharam um número elevado de jogos nos últimos ou no último minuto de forma anormal, nós não tivemos essa sorte, sem dúvida que a arbitragem teve influência. Não atribuo toda a responsabilidade à arbitragem, mas houveram alguns factores que não nos deixaram ir mais além.
A APAveiro é um pouco ausente em certos momentos e isso notou-se esta época. Só me recordo de ver uma comitiva da APAveiro nos nossos jogos que foi em Paço de Rei, nos Quartos-Final da Taça de Portugal, porque de resto eles mantiveram-se sempre um pouco ausentes, de uma forma estranha, pois tinham todo o interesse que fosse mais uma equipa de Aveiro a subir de divisão, mas quem conhece o seu funcionamento sabe que estão sempre um pouco ausentes no apoio aos clubes que estão interessados em subir, nós gostaríamos de ter um pouco mais de apoio.
Em relação ao jogador dos Carvalhos, era uma situação que a Associação pouco pedia fazer já que era uma situação que tinha mais a ver com a Federação e com o Comité Internacional de Hóquei, e até hoje estou sem saber, sem ter uma resposta da Federação sobre esta situação, passados cerca de três meses do problema ter surgido ainda estou por perceber o que é que se passou: se é legal ou não, se agora toda a gente pode fazer isto, o que parece que sim, eu não encontro fundamento nos regulamentos para o jogador ter feito este tipo de trabalho. Nem sei como é que um jogador joga por uma selecção nacional sem sequer ter apresentado um cartão de jogador, um passe internacional, se jogou com passe ou sem passe, se jogou com cartão de cidadão ou não, é tudo muito complicado e é como às vezes se costuma ouvir dizer “a culpa morreu solteira”, neste país acontece muito disto e esta foi mais uma situação assim.
M.D.: Para esta temporada a Sanjoanense apresenta três mexidas no plantel com as saídas de Alexandre Saraiva e Xavier Pinho, entrando David Nogueira, Jack Pinheiro e João Drejo, o que é que se pode esperar destes novos jogadores?
V.P.: Trocamos de guarda-redes, tínhamos o Marco Lopes, Alexandre Saraiva e Luís Pinho, saíram o Saraiva e o Luís Pinho, ambos retirados, o Luís por motivos profissionais, fomos buscar o David que é um guarda-redes que já seguíamos há algum tempo, teve um bom desempenho no clube onde estava e dá-nos todas as garantias juntamente com o Marco Lopes.
A partir daí temos o Drejo para jogar na frente por troca com o Xavier, penso que se ajusta mais à forma como o plantel está estipulado e o Jack é um jovem vindo da formação. A equipa mantem a sua base, fizemos uns ajustes inevitáveis.
Eu espero que seja um plantel mais forte, é muito idêntico ao do ano passado, com alguns ajustes para algumas situações de jogo, espero que consigamos trabalhar de forma mais coesa este ano, para que os resultados sejam melhores.
M.D.: Durante a pré-temporada surge uma novidade com a realização do Torneio Cidade de São João da Madeira com as equipas do Sporting, Tomar e Ac.Feira, este último tendo sido repescado para suprir a desistência dos Limianos, o que é que espera deste torneio e da própria pré-época da Sanjoanense?
O Torneio está inserido numa série de nove jogos de preparação, destes nove, cinco são com equipas de primeira divisão, dois com selecções nacionais, um com uma equipa do nosso campeonato e outro com uma equipa da terceira divisão.
No início, e até ao torneio, vamos trabalhar mais a parte física e dar ritmo aos jogadores, no final do torneio vamos começar a trabalhar os aspectos tácticos.
M.D.: Apesar de ainda faltar muito tempo para que o campeonato se inicie, já é possível antever quem serão os candidatos à subida de divisão?
V.P.: Acho que ainda é muito cedo, o ano passado fomos os únicos que nos assumimos, este ano com estas modificações, desistência do Limianos, jogadores do Limianos a irem para o Taipense e Riba D’Ave, jogador do Braga para o Riba D’Ave, ainda está tudo com muitas incertezas, vê-se que o Póvoa está a reforçar-se, bem com o Riba D’Ave ou o Taipense, mas neste mês de Setembro também vamos estar atentos aos jogos que as outras equipas vão fazer e de onde poderemos tirar algumas ilações.
M.D.: Sendo a sua equipa, uma equipa que gosta de ter a bola, de a fazer circular pelos quatro jogadores antes de sticar à baliza, de atacar de forma organizada, considera-se um treinador que prefere manter o hóquei bonito em detrimento de um hóquei mais cínico e que busca apenas o resultado como era o caso de, por exemplo, a equipa dos Carvalhos na última temporada?
Nós também sabemos jogar em transições rápidas e ataques organizados, mas em certos momentos prefiro que saibamos jogar com calma, até porque as pessoas de São João da Madeira estão habituadas a verem equipas a trocar a bola, a jogarem bom hóquei e os nosso adeptos certamente que não gostariam de ver a equipa a despejar bolas e a jogar de forma “abandalhada”, eu gosto de ver a equipa a trocar a bola e como Sanjoanense que somos penso que somos obrigados a jogar um bom hóquei, até para deixar evoluir a parte técnica dos jogadores.
M.D.: O que é que os adeptos podem esperar desta Sanjoanense, que mantém praticamente a equipa toda e voltará a ser, certamente, uma Sanjoanense muito forte?
V.P.: O que os sanjoanenses podem esperar é o que o treinador, a direcção e os jogadores esperam, é trabalhar forte para chegarmos ao fim-de-semana e obtermos bons resultados, quem sabe elevarmos os índices competitivos que tivemos o ano passado. A equipa já se conhece, os níveis de entrosamento vão ser mais fáceis, vamos tentar trabalhar e ganhar jogo a jogo para fazer bons jogos e cativar a nossa massa associativa.
M.D.: O Hóquei da Sanjoanense tem vindo a crescer exponencialmente nos últimos anos, com o regresso das pessoas aos pavilhões e com melhores prestações das equipas, basta dar o exemplo da conquista da Taça de Portugal Feminina. Sendo Vítor Pereira um treinador que vai para lá das funções de treinador e também ajuda nas questões económicas, nomeadamente na procura de patrocínios, tendo este ano já três patrocínios para a equipa Sénior Masculina (H&V Design, Força Valiosa e Friparque), que mensagem deixa a estas firmas que acreditam neste projecto? E que mensagem quer deixar a muitas mais que certamente têm ficado progressivamente mais atentas ao hóquei em patins, com estas participações em Final-Fours, lutas pela subida de divisão e conquistas nacionais?
V.P.: A ideia é trazer cada vez mais pessoas e patrocinadores ao hóquei, é notório que estamos em crescendo nos últimos anos, temos trazido mais adeptos, a própria Sanjoanense tem agora a claque, a “Força Negra” que dá um apoio espectacular, quando se entra para o pavilhão a realidade é diferente da que se via há três anos atrás, mas nesta luta que tivemos de subida de divisão, faltaram mais apoios, aliado a alguma incerteza devido a alguns anos de marasmos, em que as coisas estavam acomodadas.
Agora espero que esta seja a amostra que há empresas interessadas em apostar no hóquei, pois o hóquei dá visibilidade, causa retorno a nível de imagem pois tem muitos adeptos, estamos nas melhores equipas nacionais, disputamos títulos a nível nacional e faz com que as empresas que apostem na Sanjoanense e no hóquei da Sanjoanense tenham retorno. Espero que, para além destas, apareçam muitas mais empresas pois nós necessitamos, o hóquei é um desporto caro, pelo material em si, temos muitos custos com as taxas de organização de jogos e espero que as firmas venham para colmatar as dificuldades que temos.
Porém, eu sou o treinador, sou sanjoanense e também tento ajudar no que posso ao nível directivo, mas este ano e cada vez mais o meu trabalho vai ser focado em treinar a equipa sénior, vou ser muito mais objectivo nesse plantel.
M.D.: A nível  de seniores femininos e da formação, que por motivos financeiros deixa de ter a equipa de Juniores para este ano, o que é que poderá ser a temporada 2013/2014?
V.P.: Ao nível dos Seniores Femininos, ainda não se sabe bem como vai ser os moldes do campeonato, mas manteve quase todas as suas jogadoras, tem bons valores que vêm da equipa Juvenil, e neste escalão a Sanjoanense está bem e recomenda-se, pode lutar por títulos e pelos melhores lugares a nível nacional e levar cada vez mais jogadoras à selecção.
A Sanjoanense, nesta região, é pioneira ao apostar no hóquei feminino, que tem custos elevados, pois existem poucos clubes fazendo com que hajam longas deslocações, mas a Sanjoanense teve o mérito de conquistar a Taça de Portugal, a primeira para o clube.
Ao nível de formação, este ano não temos Juniores, muitos jovens partem para as Faculdades o que nos iria acarretar dificuldades ao nível financeiro, no que toca à parte desportiva, na Associação de Aveiro existem cerca de cinco clubes com Juniores para competirem entre si, o que iria ser um grande investimento e nós optamos por não ter Juniores, mas em todo o caso temos os outros planteis desde Escolas de Patinagem até Juvenis, onde podemos estar muito bem, lançando jovens para a modalidade e para as selecções, ainda este ano foram alguns jogadores para outros clubes, onde se calhar vão ter mais visibilidade, e isso orgulha quem trabalha na formação da Sanjoanense.
M.D.: Qual é a sua opinião sobre a redução de clubes na I e II Divisão para 2014/2015 de 16 para 14 clubes?
V.P.: Eu acho isso errado e não se justifica, ainda para mais saindo a decisão quando os clubes já têm preparada a próxima época, isto é, à partida sabíamos que iriam subir quatro clubes, agora só sobem dois podem subir outros dois dependendo de um play-off, não concordo com a altura da decisão muito menos com a redução.
Se é por um factor financeiro, que é o que alegam, não é significativo pois depende muito dos clubes que descerem, se a Federação queria fazer alguma coisa para melhorar e não prejudicar tanto a nível financeiro os clubes, deviam repensar as taxas federativas dos jogos, como fez na III Divisão, podia alterar a situação das transferências a nível de formação, já que um clube forma e depois há clubes que levam os jogadores sem qualquer retorno para o clube formador onde, depois, somos obrigados a ir contratar outros com taxas elevadas e despropositadas.
Porém, eu sou treinador de hóquei e tenho que estar focado na parte técnica e táctica, mas como pessoa da modalidade, não concordo com esta posição.
Estas decisões são tomadas pela Federação e por diversos órgãos que constituem a Federação e têm voz nela, nem sempre há um consenso nem toda a gente tem a mesma opinião, a maioria decidiu assim e teremos que concordar.
M.D.: Por último, uma das surpresas da temporada foi o aparecimento da claque Força Negra que tem dado o seu apoio às várias modalidades da Sanjoanense, tendo também ajudado o hóquei em patins na conquista de algumas vitórias. Que mensagem quer transmitir para esta claque e mesmo para os restantes sócios e simpatizantes, que terão também um papel fulcral na conquista do sucesso para a próxima época?

V.P.: O aparecimento da Força Negra foi, sem dúvida, um dos aspectos mais positivos que aconteceram o ano passado. Para além de todas as conquistas da Sanjoanense no ano passado, a Força Negra foi mais uma conquista, já que foram os resultados da Sanjoanense que motivaram a criação desta claque. Quando entram nos pavilhões ou no estádio para apoiar a Sanjoanense, trazem outro colorido à festa, outro ânimo, o próprio ambiente festivo que é criado, que é notório no desempenho dos jogadores faz com que venham mais gente a todas as modalidades, isso é muito bom, espero que continuem pois não é fácil, para quem já fez parte de outras claques da Sanjoanense, no passado, sabe que não é fácil, que é preciso ter muita força de vontade, nós, tentamos dar o nosso melhor para continuar a motivar as pessoas a fazerem esse trabalho e espero que, tanto a Força Negra como os restantes adeptos, continuem a apoiar-nos este ano pois são muito importantes para nós.

Fonte: Mundo Desportivo

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