Na
primeira entrevista após o final da temporada, o treinador dos seniores
masculinos de hóquei em patins da Sanjoanense, Vítor Pereira, faz um
balanço do ano 2012/2013, marcado pela presença na final-four da Taça de
Portugal, e antevê aquilo que poderá ser 2013/2014, não deixando de
falar sobre outros assuntos que vão para além do ringue, como a recente
tomada de posição de redução de clubes, por parte da federação, ou um
olhar global sobre a secção de hóquei em patins alvi-negra.
Vítor Pereira treinador da AD Sanjoanense |
Mundo Desportivo-ADS.: Passados cerca de
dois meses do final da temporada, qual é o balanço que faz da época dos
seniores masculinos 2012/2013?
Vítor
Pereira: O balanço foi positivo porque em relação ao ano anterior, estivemos melhor,
elevámos mais os índices competitivos, obtivemos uma melhor classificação no
campeonato, fomos à Final-Four da Taça de Portugal, portanto foi um ano
positivo. Contudo, ficou aquela marca de não termos conseguido aquilo que
queríamos que era a subida de divisão, apesar de nos termos superado e de
termos superado algumas dificuldades da secção, ficou aquela mágoa de não
termos subido de divisão.
Penso que o
nosso melhor jogo foi contra o Limianos, gostei muito desse jogo e o pior jogo
foi em Marco de Canaveses.
M.D.: A temporada ficou, sem dúvida,
marcada pela presença na Final-Four da Taça de Portugal. Olhando para trás
agora de forma muito mais ponderada, o que é que realça dessa participação?
Acredita que não vão ser precisos esperar mais 30 anos para que a Sanjoanense
volte a estar numa fase da competição tão avançada?
V.P.: Foi bom até por uma questão de imagem para o clube, propaganda para a cidade e mostrar que em São João da Madeira estamos a trabalhar bem, que o hóquei está diferente e a presença foi bastante dignificante.
V.P.: Foi bom até por uma questão de imagem para o clube, propaganda para a cidade e mostrar que em São João da Madeira estamos a trabalhar bem, que o hóquei está diferente e a presença foi bastante dignificante.
Acredito
que não vão ser precisos mais 30 anos, em São João da Madeira temos jovens
valores, que têm bons índices competitivos, temos uma equipa à base de prata da
casa e que tenho a certeza que pode dar continuidade a este ciclo positivo que
existe.
M.D.: O que é que faltou para conseguir a
subida de divisão?
V.P.: Faltou um pouco de sorte em
alguns jogos, em momentos-chave, faltou estarmos mais habituados estar numa
disputa de subida de divisão, foi o primeiro ano em que nos assumimos e
houveram coisas que não correram bem, a pressão que existiu, factores à volta
da modalidade sobre as subidas e descidas que são difíceis de gerir e, em
determinados momentos, deveríamos ter sido mais unidos para não estar tão à
mercê dessas situações, que pelos visto já são normais.
M.D.: Certamente que, como treinador, não
possa falar muito sobre as arbitragens, mas a verdade é que vários foram os
jogos em que a sua equipa sentiu-se prejudicada e injustiçada, casos como
Sobreira, Paços de Ferreira, Viana do Castelo, entre outros. Não sendo a única
desculpa que justifique a não subida de divisão, acaba a arbitragem por
condicionar a temporada da Sanjoanense? Crê que a APAveiro poderia ter um papel
mais activo na defesa dos interesses da Sanjoanense como defende outros clubes,
sendo prova disso a falta de apoio dado no caso do jogador dos Carvalhos que
realizou três transferência no mesmo ano?
V.P.: Quando nós não subimos de divisão
por três pontos e temos cerca de sete pontos perdidos por erros de arbitragem,
que nos prejudicaram e tiveram influência no resultado, é óbvio que isso
dava-nos outro espaço para subir de divisão, de facto existiram arbitragens que
nos prejudicaram em determinados momentos e condicionaram a subida de divisão,
assim como outras equipas ganharam um número elevado de jogos nos últimos ou no
último minuto de forma anormal, nós não tivemos essa sorte, sem dúvida que a
arbitragem teve influência. Não atribuo toda a responsabilidade à arbitragem,
mas houveram alguns factores que não nos deixaram ir mais além.
A APAveiro
é um pouco ausente em certos momentos e isso notou-se esta época. Só me recordo
de ver uma comitiva da APAveiro nos nossos jogos que foi em Paço de Rei, nos
Quartos-Final da Taça de Portugal, porque de resto eles mantiveram-se sempre um
pouco ausentes, de uma forma estranha, pois tinham todo o interesse que fosse
mais uma equipa de Aveiro a subir de divisão, mas quem conhece o seu
funcionamento sabe que estão sempre um pouco ausentes no apoio aos clubes que estão
interessados em subir, nós gostaríamos de ter um pouco mais de apoio.
Em relação
ao jogador dos Carvalhos, era uma situação que a Associação pouco pedia fazer
já que era uma situação que tinha mais a ver com a Federação e com o Comité
Internacional de Hóquei, e até hoje estou sem saber, sem ter uma resposta da
Federação sobre esta situação, passados cerca de três meses do problema ter
surgido ainda estou por perceber o que é que se passou: se é legal ou não, se
agora toda a gente pode fazer isto, o que parece que sim, eu não encontro
fundamento nos regulamentos para o jogador ter feito este tipo de trabalho. Nem
sei como é que um jogador joga por uma selecção nacional sem sequer ter
apresentado um cartão de jogador, um passe internacional, se jogou com passe ou
sem passe, se jogou com cartão de cidadão ou não, é tudo muito complicado e é
como às vezes se costuma ouvir dizer “a culpa morreu solteira”, neste país
acontece muito disto e esta foi mais uma situação assim.
M.D.: Para esta temporada a Sanjoanense
apresenta três mexidas no plantel com as saídas de Alexandre Saraiva e Xavier
Pinho, entrando David Nogueira, Jack Pinheiro e João Drejo, o que é que se pode
esperar destes novos jogadores?
V.P.:
Trocamos de guarda-redes, tínhamos o Marco Lopes, Alexandre Saraiva e Luís
Pinho, saíram o Saraiva e o Luís Pinho, ambos retirados, o Luís por motivos
profissionais, fomos buscar o David que é um guarda-redes que já seguíamos há
algum tempo, teve um bom desempenho no clube onde estava e dá-nos todas as
garantias juntamente com o Marco Lopes.
A partir
daí temos o Drejo para jogar na frente por troca com o Xavier, penso que se
ajusta mais à forma como o plantel está estipulado e o Jack é um jovem vindo da
formação. A equipa mantem a sua base, fizemos uns ajustes inevitáveis.
Eu espero
que seja um plantel mais forte, é muito idêntico ao do ano passado, com alguns
ajustes para algumas situações de jogo, espero que consigamos trabalhar de
forma mais coesa este ano, para que os resultados sejam melhores.
M.D.: Durante a pré-temporada surge uma
novidade com a realização do Torneio Cidade de São João da Madeira com as
equipas do Sporting, Tomar e Ac.Feira, este último tendo sido repescado para
suprir a desistência dos Limianos, o que é que espera deste torneio e da
própria pré-época da Sanjoanense?
O Torneio
está inserido numa série de nove jogos de preparação, destes nove, cinco são
com equipas de primeira divisão, dois com selecções nacionais, um com uma
equipa do nosso campeonato e outro com uma equipa da terceira divisão.
No início,
e até ao torneio, vamos trabalhar mais a parte física e dar ritmo aos
jogadores, no final do torneio vamos começar a trabalhar os aspectos tácticos.
M.D.: Apesar de ainda faltar muito tempo
para que o campeonato se inicie, já é possível antever quem serão os candidatos
à subida de divisão?
V.P.: Acho
que ainda é muito cedo, o ano passado fomos os únicos que nos assumimos, este
ano com estas modificações, desistência do Limianos, jogadores do Limianos a
irem para o Taipense e Riba D’Ave, jogador do Braga para o Riba D’Ave, ainda
está tudo com muitas incertezas, vê-se que o Póvoa está a reforçar-se, bem com
o Riba D’Ave ou o Taipense, mas neste mês de Setembro também vamos estar
atentos aos jogos que as outras equipas vão fazer e de onde poderemos tirar
algumas ilações.
M.D.: Sendo a sua equipa, uma equipa que
gosta de ter a bola, de a fazer circular pelos quatro jogadores antes de sticar
à baliza, de atacar de forma organizada, considera-se um treinador que prefere
manter o hóquei bonito em detrimento de um hóquei mais cínico e que busca
apenas o resultado como era o caso de, por exemplo, a equipa dos Carvalhos na
última temporada?
Nós também
sabemos jogar em transições rápidas e ataques organizados, mas em certos
momentos prefiro que saibamos jogar com calma, até porque as pessoas de São
João da Madeira estão habituadas a verem equipas a trocar a bola, a jogarem bom
hóquei e os nosso adeptos certamente que não gostariam de ver a equipa a
despejar bolas e a jogar de forma “abandalhada”, eu gosto de ver a equipa a
trocar a bola e como Sanjoanense que somos penso que somos obrigados a jogar um
bom hóquei, até para deixar evoluir a parte técnica dos jogadores.
M.D.: O que é que os adeptos podem esperar
desta Sanjoanense, que mantém praticamente a equipa toda e voltará a ser,
certamente, uma Sanjoanense muito forte?
V.P.: O que
os sanjoanenses podem esperar é o que o treinador, a direcção e os jogadores
esperam, é trabalhar forte para chegarmos ao fim-de-semana e obtermos bons
resultados, quem sabe elevarmos os índices competitivos que tivemos o ano
passado. A equipa já se conhece, os níveis de entrosamento vão ser mais fáceis,
vamos tentar trabalhar e ganhar jogo a jogo para fazer bons jogos e cativar a
nossa massa associativa.
M.D.: O Hóquei da Sanjoanense tem vindo a
crescer exponencialmente nos últimos anos, com o regresso das pessoas aos
pavilhões e com melhores prestações das equipas, basta dar o exemplo da
conquista da Taça de Portugal Feminina. Sendo Vítor Pereira um treinador que
vai para lá das funções de treinador e também ajuda nas questões económicas,
nomeadamente na procura de patrocínios, tendo este ano já três patrocínios para
a equipa Sénior Masculina (H&V Design, Força Valiosa e Friparque), que
mensagem deixa a estas firmas que acreditam neste projecto? E que mensagem quer
deixar a muitas mais que certamente têm ficado progressivamente mais atentas ao
hóquei em patins, com estas participações em Final-Fours, lutas pela subida de
divisão e conquistas nacionais?
V.P.: A
ideia é trazer cada vez mais pessoas e patrocinadores ao hóquei, é notório que
estamos em crescendo nos últimos anos, temos trazido mais adeptos, a própria
Sanjoanense tem agora a claque, a “Força Negra” que dá um apoio espectacular,
quando se entra para o pavilhão a realidade é diferente da que se via há três
anos atrás, mas nesta luta que tivemos de subida de divisão, faltaram mais
apoios, aliado a alguma incerteza devido a alguns anos de marasmos, em que as
coisas estavam acomodadas.
Agora
espero que esta seja a amostra que há empresas interessadas em apostar no
hóquei, pois o hóquei dá visibilidade, causa retorno a nível de imagem pois tem
muitos adeptos, estamos nas melhores equipas nacionais, disputamos títulos a
nível nacional e faz com que as empresas que apostem na Sanjoanense e no hóquei
da Sanjoanense tenham retorno. Espero que, para além destas, apareçam muitas
mais empresas pois nós necessitamos, o hóquei é um desporto caro, pelo material
em si, temos muitos custos com as taxas de organização de jogos e espero que as
firmas venham para colmatar as dificuldades que temos.
Porém, eu
sou o treinador, sou sanjoanense e também tento ajudar no que posso ao nível
directivo, mas este ano e cada vez mais o meu trabalho vai ser focado em
treinar a equipa sénior, vou ser muito mais objectivo nesse plantel.
M.D.: A nível de seniores femininos e da formação, que por
motivos financeiros deixa de ter a equipa de Juniores para este ano, o que é
que poderá ser a temporada 2013/2014?
V.P.: Ao
nível dos Seniores Femininos, ainda não se sabe bem como vai ser os moldes do
campeonato, mas manteve quase todas as suas jogadoras, tem bons valores que vêm
da equipa Juvenil, e neste escalão a Sanjoanense está bem e recomenda-se, pode
lutar por títulos e pelos melhores lugares a nível nacional e levar cada vez
mais jogadoras à selecção.
A
Sanjoanense, nesta região, é pioneira ao apostar no hóquei feminino, que tem
custos elevados, pois existem poucos clubes fazendo com que hajam longas
deslocações, mas a Sanjoanense teve o mérito de conquistar a Taça de Portugal,
a primeira para o clube.
Ao nível de
formação, este ano não temos Juniores, muitos jovens partem para as Faculdades
o que nos iria acarretar dificuldades ao nível financeiro, no que toca à parte
desportiva, na Associação de Aveiro existem cerca de cinco clubes com Juniores
para competirem entre si, o que iria ser um grande investimento e nós optamos
por não ter Juniores, mas em todo o caso temos os outros planteis desde Escolas
de Patinagem até Juvenis, onde podemos estar muito bem, lançando jovens para a
modalidade e para as selecções, ainda este ano foram alguns jogadores para
outros clubes, onde se calhar vão ter mais visibilidade, e isso orgulha quem
trabalha na formação da Sanjoanense.
M.D.: Qual é a sua opinião sobre a redução
de clubes na I e II Divisão para 2014/2015 de 16 para 14 clubes?
V.P.: Eu
acho isso errado e não se justifica, ainda para mais saindo a decisão quando os
clubes já têm preparada a próxima época, isto é, à partida sabíamos que iriam
subir quatro clubes, agora só sobem dois podem subir outros dois dependendo de
um play-off, não concordo com a altura da decisão muito menos com a redução.
Se é por um
factor financeiro, que é o que alegam, não é significativo pois depende muito
dos clubes que descerem, se a Federação queria fazer alguma coisa para melhorar
e não prejudicar tanto a nível financeiro os clubes, deviam repensar as taxas
federativas dos jogos, como fez na III Divisão, podia alterar a situação das
transferências a nível de formação, já que um clube forma e depois há clubes
que levam os jogadores sem qualquer retorno para o clube formador onde, depois,
somos obrigados a ir contratar outros com taxas elevadas e despropositadas.
Porém, eu
sou treinador de hóquei e tenho que estar focado na parte técnica e táctica,
mas como pessoa da modalidade, não concordo com esta posição.
Estas
decisões são tomadas pela Federação e por diversos órgãos que constituem a
Federação e têm voz nela, nem sempre há um consenso nem toda a gente tem a
mesma opinião, a maioria decidiu assim e teremos que concordar.
M.D.: Por último, uma das surpresas da
temporada foi o aparecimento da claque Força Negra que tem dado o seu apoio às
várias modalidades da Sanjoanense, tendo também ajudado o hóquei em patins na
conquista de algumas vitórias. Que mensagem quer transmitir para esta claque e
mesmo para os restantes sócios e simpatizantes, que terão também um papel
fulcral na conquista do sucesso para a próxima época?
V.P.: O aparecimento da Força Negra foi, sem dúvida, um dos aspectos mais positivos que aconteceram o ano passado. Para além de todas as conquistas da Sanjoanense no ano passado, a Força Negra foi mais uma conquista, já que foram os resultados da Sanjoanense que motivaram a criação desta claque. Quando entram nos pavilhões ou no estádio para apoiar a Sanjoanense, trazem outro colorido à festa, outro ânimo, o próprio ambiente festivo que é criado, que é notório no desempenho dos jogadores faz com que venham mais gente a todas as modalidades, isso é muito bom, espero que continuem pois não é fácil, para quem já fez parte de outras claques da Sanjoanense, no passado, sabe que não é fácil, que é preciso ter muita força de vontade, nós, tentamos dar o nosso melhor para continuar a motivar as pessoas a fazerem esse trabalho e espero que, tanto a Força Negra como os restantes adeptos, continuem a apoiar-nos este ano pois são muito importantes para nós.
Fonte: Mundo Desportivo
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