Utilizar ferramentas da engenharia e da biomecânica para potenciar o desempenho dos atletas de elite - é este o principal objetivo da investigação feita pelo Laboratório de Biomecânica da Universidade do Porto (LABIOMEP) na área do hóquei em patins.
Os testes de mecânica experimental, incluindo técnicas como a cinemetria [ver glossário], a dinamometria [ver glossário] e o registo em vídeo de alta velocidade, têm sido utilizados quer para desenvolver os materiais envolvidos nesta modalidade (desde o piso dos pavilhões ao equipamento dos atletas), quer para investigar a forma como são executados os movimentos técnicos.
A análise do movimento permitiu assim à equipa do LABIOMEP ter um conhecimento detalhado sobre o remate. Observou-se, por exemplo, que “a velocidade da bola é 15% superior se o remate for feito do lado natural (quando o atleta destro remata do lado direito), mas que o remate do lado reverso (quando o atleta destro remata do lado esquerdo) é geralmente mais preciso”, revela Mário Vaz, um dos responsáveis pela investigação [ver vídeo].
Recorrendo a um equipamento desenvolvido para medir o centro de massa e a rigidez do stique e a filmagens de alta velocidade, percebeu-se ainda que “quando o atleta bate na bola numa zona do stique com grande rigidez, que é o caso da curva, o tempo de contacto entre a bola e o stique é mais baixo, e, por isso, a velocidade do remate vai ser menor”.
Adequar os materiais para um grande espetáculo
Quanto aos materiais, a equipa do LABIOMEP procura ter uma intervenção bastante abrangente, desenvolvendo ferramentas para estudar pisos, stiques e patins.
O desenvolvimento de um dispositivo para medir o atrito permitiu, por exemplo, perceber que estava no mercado um piso sintético em que a bola se movimenta mais lentamente e de forma irregular. O próximo passo será fazer esta medição do atrito nos vários tipos de piso (madeira, cimento, sintéticos, etc.) para perceber qual a melhor solução.
Para estudar ao pormenor os stiques, com o propósito de “ajustar as suas propriedades às características do atleta”, foi criado um equipamento que permite obter a massa, a posição do centro de gravidade, a inércia e a rigidez à flexão. Já em relação aos patins, a certeza é de que devem ser leves e não se devem deformar facilmente. “Os que existem no mercado foram desenvolvidos há mais de 20 anos, e por isso estão completamente ultrapassados”, adverte Mário Vaz.
Para além de potenciar o desempenho técnico, esta equipa de investigação quer também contribuir para uma melhoria no espetáculo do hóquei em patins. “Uma modalidade de pavilhão, só consegue sobreviver se for um bom espetáculo televisivo”, assim devem ser usadas “bolas de cores diferentes, e pisos que, mantendo as suas propriedades, sejam claros e não brilhantes para evitar reflexos”, explica o especialista.
Ciência e tecnologia como garantia de segurança
O estudo da modalidade chamou ainda a atenção para a segurança do guarda-redes de hóquei, cuja máscara não é, de acordo com a equipa do LABIOMEP, uma proteção eficaz.
Nos primórdios do hóquei em patins o guarda-redes não usava este equipamento e eram, por isso, abundantes os casos de fratura, até porque a defesa se faz grande parte das vezes com a cabeça. Adaptou-se então o capacete usado no hóquei no gelo, acrescentando-se uma máscara para proteção do rosto. [ver vídeo]
“O problema é que a máscara tem um apoio que encaixa diretamente no queixo do guarda-redes, portanto se a bola bater do meio da máscara para baixo - que é a situação mais frequente uma vez que os remates são feitos do chão -, a pancada é absorvida pelo queixo e há grande risco de lesões na mandíbula”, alerta Mário Vaz. Com os remates a atingirem hoje em dia os 130km/h, “torna-se urgente desenvolver proteções melhores para os guarda-redes, sob pena de um dia termos uma lesão séria”, acrescenta.
Refira-se que todo este estudo, inédito na modalidade, começou em 2010, e já contou com a colaboração de clubes como o FC Porto e o FC Barcelona.
Glossário:
Cinemetria - Conjunto de métodos que permitem a determinação da posição e orientação dos segmentos corporais, buscando medir os parâmetros cinemáticos do movimento, isto é, posição, orientação, velocidade e aceleração.
Dinamometria - Métodos para obter medidas de força e pressão. O instrumento básico em dinamometria é a plataforma de força, que mede a força de reação do solo (FRS) e o ponto de aplicação desta força.
Foto: LABIOMEP
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