António Aguiar, nos 30 Anos da Associação de Patinagem de Macau |
A Associação de Patinagem de Macau cumpre este ano 30 anos de existência e assinala a efeméride com um torneio quadrangular que traz ao território as selecções do Japão e de Taiwan. A semana é de festa para o organismo que tutela o mais lusitano dos desporto sobre rodas, mas os dias de celebração não ocultam, nem obscurecem os problemas com que se deparam os campeões asiáticos de hóquei em patins. A falta de instalações próprias continua a ser uma dor de cabeça. António Aguiar, presidente da Associação de Patinagem de Macau, abre o livro e fala sobre o futuro do hóquei no território.
Os nomes de Portugal e Espanha chegaram a estar equacionados para este torneio. A ausência das duas maiores potências mundiais da modalidade tira magnitude à prova?
Confesso que inicialmente tencionávamos fazer uma celebração mais em grande, com outras equipas, nomeadamente com a presença de Portugal e Espanha, como disse. Deparámo-nos a certa altura com um problema. Um dos nossos objectivos passava também por organizar um torneio que desse competitividade à nossa selecção de Sub-20 que vai participar no Mundial. A prova estava prevista para Novembro; entretanto foi antecipada para Outubro e isso condicionou bastante a realização deste torneio. Tivemos de organizar o torneio nesta altura e nesta altura é, de facto, extremamente difícil conseguir que alguma equipa da Europa venha cá. Para além das questões que têm a ver com a crise e com a falta de disponibilidade financeira para custear as viagens e tudo isso, há outras questões que tornam difícil trazer formações dessa parte do globo. Se fosse em Outubro era tudo muito mais fácil e teríamos com certeza aqui equipas portuguesas, como aliás tivemos duas ou três muito, muito perto de virem. O acordo só falhou mesmo à última da hora.
Perde relevância o torneio, sem essas equipas?
Não, não. O torneio, para além de celebrar os trinta anos da Associação, tem de certa forma um aspecto, digamos, sentimental porque o Japão tinha de estar cá. O Japão foi a primeira equipa contra quem nós jogámos em termos de registo internacional. Trinta anos depois nós tínhamos de os trazer de novo. O Japão – até porque nós não nos pudemos encontrar no último Asiático se bem se lembra por causa de questões, enfim, de foro político que existiam na altura – é uma equipa com a qual nós, a nível asiático, gostamos e temos de jogar. O Japão tinha de cá estar, inevitavelmente. Taiwan tinha que estar porque é a selecção que nos está mais próxima. Taiwan fica aqui ao lado e traz, aliás, três equipas a esta celebração. Para além da selecção masculina, traz também a selecção feminina e uma selecção masculina de hóquei ‘in line’ e é o nosso parceiro habitual nestas celebrações. Como é evidente, para além da nossa selecção principal, vamos também ter a nossa selecção de Sub-20 e estas quatro equipas juntas já garantem um torneio muitíssimo bom. O fundamental é fazer jogos e isso nós vamos acabar por fazer. As equipas vão fazer cinco jogos em quatro dias. Isto é, no fundo, nós vamos tentar também simular o mais aproximadamente possível o ambiente e a competitividade que a nossa selecção de Sub-20 vai encontrar em Outubro na Colômbia, no Campeonato do Mundo.
A ida à Colômbia pauta a estreia de Macau em mundiais de Sub-20. Até onde pode ir esta selecção jovem do território?
É assim… Não é a primeira vez que vamos participar num Mundial de juniores, é a segunda. Já disputamos a prova por uma ocasião, na Colômbia, precisamente, numa altura em que a prova não era validada oficialmente nessa altura. Oficialmente é de facto a primeira vez. Aliás, este é apenas o sexto Campeonato do Mundo de Juniores organizado à escala global. O Campeonato do Mundo de Sub-20 é de organização relativamente recente. Quando decidimos formar uma equipa para participar neste mundial, devo dizer-lhe muito francamente que hesitamos, ponderamos bastante. Se calhar na altura a razão até aconselhava que não fossemos, porque factualmente esta equipa é uma equipa de Sub-17, não é de Sub-20. Neste momento não há um Mundial de Sub-17. Após ponderar bastante e discutir a possibilidade com bastante profundidade, nós chegámos à conclusão que mesmo assim valeria a pena, porque no fundo nós vamos prepará-los para daqui a dois anos e para aqui a quatro, porque uma boa parte deles daqui a quatro anos ainda são Sub-20. Estamos a passar por uma fase de transição, por uma primeira etapa que vai conduzir a que possamos ter uma equipa competitiva e que possa fazer um brilharete daqui a dois e, quase de certeza, daqui a quatro anos. Desta vez não é esse o objectivo, nem contamos que isso aconteça.
Há qualidade neste grupo de trabalho para que a Associação de Patinagem de Macau alimente a prerrogativa de continuar a dominar o cenário do hóquei em patins no continente asiático?
Parece-me evidente que a renovação da nossa equipa de seniores é um dos mais fortes imperativos que temos em mãos. A nossa equipa de seniores ainda aguenta com a actual estrutura mais alguns anos, mas não muitos mais. O processo de renovação, necessariamente, a qualquer altura teria de ser feito. Existe neste momento um hiato de cinco a seis anos entre os nossos seniores e aqueles que os vão substituir. São fundamentalmente esta base que está na origem da Selecção de Sub-20 e mais alguns que ainda estão na calha e que ainda são mais novos. Esse hiato, necessariamente, vai ter de ser reduzido através da competitividade que estes rapazes vão ter, o que torna possível que alguns deles – eventualmente até no próximo asiático – já possam jogar nos seniores.
Muita gente nova também na selecção feminina. Renovação assegurada ou nem por isso?
A selecção feminina é aquela que nos tem dado mais preocupações ao nível da renovação. Enquanto que na selecção masculina sai um e entra outro e o grupo continua sempre composto, na selecção feminina normalmente saem quatro ou cinco. Não há hipótese nenhuma de fazer uma renovação de certa forma faseada e com algum equilíbrio, sem alguma perda de qualidade. Já não é a primeira vez nem a segunda, nem a terceira vez em que nós começamos tudo de novo. Neste momento, e em relação ao último asiático, saíram quatro jogadoras. Quatro jogadoras é meio plantel de hóquei em patins e uma equipa inteira de campo. Nós estamos a tentar renovar com jogadoras ainda muito novas, em idade ainda muito tenra. Eu tenho duas filhas aqui, por exemplo. Uma tem apenas doze anos e já aqui está a jogar com elas. Para além destas que aqui estão a jogar nós temos ainda mais doze miúdas que estão ainda na fase de aprendizagem do hóquei em patins. Ainda não têm competências para poder jogar e competir, mas daqui a um ano já o poderão fazer. Neste momento estou em posição de garantir que Macau vai participar no próximo asiático com uma equipa feminina e daqui a três anos garantidamente haverá duas equipas femininas, para poder ter finalmente escolha, algo que raramente acontece na equipa feminina.
O próximo ano será um ano em cheio para a selecção sénior. Teremos o Mundial possivelmente no Egipto e o Asiático na Índia, em datas a anunciar. O que poderá a selecção fazer, sobretudo no Asiático? O objectivo passará sempre pela revalidação do título?
Obviamente. Para já não estão confirmados os locais. São apenas hipóteses que não estão confirmadas. No masculino lutamos, obviamente, para o título. A nossa equipa continua a ser a mais forte a nível asiático. Nas lides do hóquei feminino, eu tenho muita esperança que possamos definitivamente vir a lutar pelo primeiro e segundo lugar a uma distância não muito longínqua. É bom não esquecer que estamos a investir bastante nas equipas de ‘in line’, de hóquei em linha. Temos bastantes miúdos de 12, 13 e 14 anos não só a aprender a patinar, mas já a aprender a jogar ‘in line’. Temos ainda a nossa equipa de ‘in line’ sénior que é razoável a nível asiático. Ocupa a metade baixa da tabela, mas foge aos últimos lugares. Eles vão ter, aliás, a possibilidade de competir esta semana com Taiwan, que possui uma belíssima equipa e com Cantão, em representação da República Popular da China. Recentemente batemo-nos com Cantão, vencendo o Interport. Estamos também a fazer uma aposta na renovação da nossa equipa de ‘in line’ por forma de conseguirmos levar a selecção à metade superior da tabela a nível asiático. A nível asiático não alimento qualquer pessimismo. Pelo contrário, acredito que o trabalho está a ser bem feito e poderemos colher alguns frutos muito em breve.
E a nível mundial?
A nível mundial, as coisas são um bocadinho mais difíceis, porque há uma questão em Macau que não temos qualquer hipótese de ultrapassar, que é a questão da competitividade. Para além de não termos campeonatos internos, nós não temos grande possibilidades de jogar com outras equipas e quando o fazemos, fazemo-lo sempre com as mesmas. O panorama na Ásia obviamente não se pode comparar com a Europa, que faz campeonatos de Sub-15, de Sub-16, de Sub-17, Sub-18, Sub-19. Os campeonatos são frequentes na Europa e têm também campeonatos nacionais. Nós, como se sabe, não temos e esta faceta debilita-nos muito mas isto são contingências de quem está nesta parte do mundo.
A renovação em curso pode significar que a médio prazo o Campeonato de Hóquei em Patins de Macau poderá ser reabilitado?
Pode. Mas confesso-lhe uma coisa: eu não sou grande adepto de fazer campeonatos com três equipas. Não sou mesmo nada adepto. Ou mesmo de dinamizar uma fórmula que também por nós foi adoptada, que é competir nas variantes de dois para dois ou três para três, optar por campeonatos e equipas com menos jogadores só para poder competir. Não sou adepto porque uma razão muito simples: ganham-se muitos vícios. Os nossos atletas habituam-se a jogar uns com os outros, já sabem para que lado será feita a finta e não se esforçam tanto. Acaba por não haver a competitividade que deveria haver. Para além disso, continuamos a ter problemas graves de espaços e não podemos disponibilizar espaços para campeonatos e para treinos da selecção e para ‘in line’ e para feminino, para miúdos e para as escolas… Pura e simplesmente não dá para isso tudo. Nós não temos, de facto, privilegiado os Campeonatos. O que podemos fazer é este tipo de torneios. Isto, sim. Isto é que nos dá a competitividade. Jogar uns com os outros, sempre aqui, durante três ou quatro meses é até contra-producente, do meu ponto de vista. Acaba por criar rotinas que não são as que interessam ao hóquei em patins.
Falava na organização de torneios como o que se inicia na quinta-feira. E outro tipo de concretizações. Poderemos voltar a ter um Asiático ou um Mundial B em Macau?
Nós já organizamos um Asiático, em 1991 e três Mundiais B. Neste momento, nós não temos qualquer possibilidade de organizar um Campeonato Asiático porque a prova envolve as modalidades todas do espectro da patinagem e nós só temos capacidade para fazer o hóquei em patins e o hóquei em linha. Não temos uma pista para fazer corridas de patins. A patinagem artística, enfim, também poderia ser feita num pavilhão destes, mas as corridas – que passam, neste momento, por ser a modalidade mais importante a nível mundial – nós não a podemos fazer porque não temos uma pista. Este é, aliás, um dos nossos grandes sonhos e um dos nossos grandes objectivos, o poder ter de uma forma ou de outra uma pista provisória ou temporária e isso impede que nos abalancemos à organização de um Asiático. No que diz respeito ao hóquei em patins, posso lhe dizer que já fui variadíssimas vezes abordado para organizar um mundial de clubes em Macau.
Mundial de Clubes?
Sim, um Mundial de Clubes como existe no futebol, com o campeão da Europa, da América do Sul, da América do Norte, da Ásia e de África. O problema é que um Mundial de Clubes é uma competição que é bastante cara, porque de acordo com os regulamentos a organização tem de custear tudo e assegurar as despesas das equipas. Estamos a falar de equipas como o Porto, o Benfica, o Barcelona ou o Liceu da Corunha, ou seja, das melhores equipas do mundo. Macau não é propriamente o sítio ideal, porque acho que não é bom ter um Porto-Barcelona ou um Benfica-Liceu da Corunha com vinte, trinta ou cinquenta pessoas a assistir nas bancadas. Exigem-se pavilhões cheios. Estamos a falar de cinco ou seis mil lugares. Se o aspecto monetário ainda se poderia resolver, o facto deste tipo de competições não serem aquelas a que nos podemos abalançar com sucesso limita as nossas ambições. Um Mundial B outra vez eventualmente sim, porque não? Ainda assim, apenas quando houver as mudanças que consideramos que terão que existir ao nível da gestão do hóquei em patins mundial. Neste momento, com este tipo de gestão, nós não estamos de facto interessados em organizar o que quer que seja aqui em Macau.
A questão das infra-estruturas que têm ao vosso dispor continua a ser o grande calcanhar de Aquiles da Associação de Patinagem de Macau. Há novidades neste capítulo?
Neste momento ainda não. De concreto não há nada. Há algumas hipóteses que têm vindo a ser equacionados. Temos dialogado com o Instituto do Desporto, que tem sido bastante cooperativo nesse aspecto. Aqui há uns quinze dias, mais ou menos, nós tivemos um conjunto de reuniões e um conjunto de visitas, em conjunto com elementos do Instituto do Desporto e também do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais, nomeadamente para tentar perceber o que é que se pode fazer com algumas das instalações que já existem, nomeadamente aquele ringue que está em Coloane, que foi construído e que ainda não está a ser utilizado porque não está em condições. Propusemos a eventualidade de podermos vir a montar uma pista amovível, com capacidade para montar e desmontar sempre que for preciso. Estudamos a hipótese de o fazer no Dome ou noutro sítio qualquer. Convidamos inclusivamente um especialista de uma fábrica de pavimentos para patinagem e para outras modalidades. Esse senhor veio cá e nós tivemos algumas reuniões, tivemos algumas conversas. Não há nada de concreto, são apenas situações ainda numa fase exploratória, mas nós temos esperança de que mais dia menos dia vamos conseguir aquilo de que desejámos , até porque soluções existem. O problema de Macau é o espaço. Os terrenos, como sabe, são escassos. Nem sequer é tanto um problema de dinheiro, é mais um problema de espaço. É um problema que eu compreendo muito bem, mas vamos continuar a lutar por isso, indiscutivelmente.
Fonte: Hoje Macau
Sem comentários:
Enviar um comentário